domingo, 29 de novembro de 2020

O HOMEM DA RÁDIO, NA AUTOESTRADA

Almoinhas, Leiria, Portugal (2020)

 "O relatório afirmava que o objecto pairou sobre um campo usado para pastagem. Toda aquela zona era arborizada, e na zona sobre a qual o objecto pairou, a erva ficou acamada, formando um círculo de 18 m. de diâmetro; por cima do círculo, a erva ficou solta, como se tivesse sido sugada pelo objecto quando ele se ergueu a alta velocidade. A erva pisada foi vista por várias testemunhas, e amostras do solo e da erva foram recolhidas e enviadas a Dayton para serem analisadas pela Divisão de Análise Técnica, tendo sido concluído que não havia quaisquer indícios de radioactividade, queimaduras ou pressão.

O relatório do Livro Azul acrescenta ainda:

Depois de parar o carro, o Sr. ----- desligou o motor e ao sair do carro ouviu um ruído palpitante que vinha do objecto. Quando o objecto começou a subir, fez um barulho semelhante ao que faz um bando de aves quando levanta voo. Não foi observado fumo, nem vapor. O tempo estava quente, com algumas nuvens e sem vento. O Sr. ----- disse que o sol nasceu aquela hora, pelo que já havia luz suficiente para se ver todos os objectos naquela zona. A testemunha não se lembra de ter visto quaisquer aviões, comboios ou outros veículos aquela hora."

in "OVNI - Relatório Hynek" de Dr. J. Allen Hynek (1977)


                            "The Happening" - PIXIES (1990)


segunda-feira, 16 de novembro de 2020

1970 . 1974 FOLK&PROG

 
Pormenor da Fonte das 3 Bicas, Leiria, Portugal (2019)

"Nas vésperas da revolução de Abril de 1974, o mercado do rock em Portugal assistiu ao lançamento de um LP único: "Mestre", dos Petrus Castrus, em 1973. Com efeito, aliando à escassez de LP's até então publicados o facto de ter sido gravado nos estúdios do Castelo de Hérouville (em França, onde gravaram Elton John, Cat Stevens e os Pink Floyd, entre outros), de a grande maioria dos textos do álbum serem da autoria de consagrados escritores de língua portuguesa - e muitos deles anti-regime - e tendo ainda em conta a musicalidade hard rock progressivo patente em todo o trabalho, este era sem dúvida um álbum destinado a ficar na história. Logo depois do 25 de Abril, os Petrus Castrus, num ano desafortunado para o rock, lançariam ainda o single "A Bananeira", com um brilhante "Seis e Meia da Tarde", próximo de alguns Soft Machine ou King Crimson."

in "Portugal Eléctrico! - Contracultura Rock 1955 . 1982" de Edgar Raposo e Luís Futre (2013)


                            "Mestre" - PETRUS CASTRUS (1973)


terça-feira, 10 de novembro de 2020

VOAR NO VENTO

Campos do Lis, Leiria, Portugal (2020)
   
"Tenho repetido muito «lembro-me», «vem-me à cabeça» ... Eh, a memória é importante - para todos, a qualquer idade. A memória de qualquer coisa: de uma canção, de um acontecimento; de uma comida, porque se calhar esta comida está a ligar-nos a um momento especial, a um encontro, a uma festa. E o mesmo com os cheiros, ou uma paisagem.
   Adoro ficção científica. Mesmo num filme de ficção científica, no Blade Runner, o que representa sofre, sofre de uma maneira impressionante porque não tem passado, não tem memória. Até isto dá a medida de como é importante.
   Lembro-me - não sei se o li ou ouvi num filme, não me recordo onde foi - de um canto navajo, índio, que diz:
Tudo o que viste, recorda-o
                                                Porque tudo o que esqueces
                                                Torna a voar no vento."  

in "Eu lembro-me, sim, bem me lembro" de Marcello Mastroiani (1997) 


                            "Memories Of Green" - VANGELIS (1982)

domingo, 1 de novembro de 2020

FLORES DO MAL

Igreja de S. Francisco, Porto, Portugal (2016)

                                                                  CX

UMA MÁRTIR
DESENHO DE UM MESTRE DESCONHECIDO

Pelo meio dos frascos, de estofos brilhantes
E dos móveis voluptuosos,
Entre mármores e quadros, vestidos fragrantes
Rojados plo chão, sumptuosos,

Numa tépida alcova onde, tal como em estufa,
O ar é perigoso e fatal, 
Onde os bouquets, morrendo em seus caixões de vidro,
Exalam o seu sopro final,

Sem cabeça, um cadáver derrama, qual rio,
Sobre a almofada já sem sede
Um sangue bem vermelho, pla tela bebido
Com a avidez de um prado seco.

Semelhante às visões que se criam na sombra
E que nos prendem sempre os olhos,
A cabeça, com o monte de sombrio cabelo
E as suas jóias preciosas,

Na mesa de cabeceira, tal como um ranúnculo,
Repousa; e, sem pensar em nada, 
Um olhar branco e vago, tal como o crepúsculo,
Escapa dos seus olhos em alvo.

Na cama o corpo nu, sem escrúpulos, expõe
No abandono mais completo
A beleza fatal e o secreto esplendor
Que lhe ofereceu a natureza;

Na perna, ornada de oiro, uma rosada meia
Ficou-lhe como uma lembrança;
A liga, como um olho secreto e em chamas,
Dardeja um olhar de diamante.

O aspecto singular daquela solidão
E de um retrato langoroso,
Aos olhos provocantes como a sua pose
Revela um amor tenebroso,

Alegrias culpadas e festas estranhas
Cheias de beijos infernais,
Que enchiam de prazer o enxame dos maus anjos
Entre as pregas dos cortinados;

E no entanto, ao ver a magreza elegante
Daqueles ombros bem recortados,
A cintura fogosa e as salientes ancas, 
Tal como um réptil irritado,

É bem jovem ainda! - A sua alma exasperada
E, gastos plo tédio, os sentidos
Ter-se-iam aberto à matilha açulada
De errantes desejos perdidos?

O homem vingativo que não foste, em vida,
Capaz de saciar com amor,
Satisfez nessa carne inerte e permissiva
A imensidão do seu desejo?

Responde, impuro corpo! e plas rígidas tranças
Como braços febris erguendo-te,
Cabeça assustadora, diz se ele nos teus dentes
Quis colar o supremo adeus?

- Longe dos comentários, tão longe da turba
E dos magistrados curiosos,
Dorme em paz, dorme em paz, estranha criatura,
No teu sepulcro misterioso;

Corre mundo o teu esposo, e a tua forma imortal
Vela junto dele quando dorme;
Tal como tu, decerto ele ser-te-á fiel,
Sempre constante até à morte.

in "As Flores Do Mal" de Charles Baudelaire (Tradução de Fernando Pinto do Amaral) (1857)


                            "Dark Entries" - BAUHAUS (1980)