Como que numa tela vazia, a profusão espacial domina a incerteza de uma paisagem em tons secos, espraiados pela nítida aridez que prolonga a imprecisão das linhas da terra. Absorto na absoluta tranquilidade de tão exausta moldura, o instinto felino revela estar atento ao cenário envolvente, imerso na solidão contemplativa de uma curiosidade que se fixa para além do reino das sombras, onde os novos ruídos e os movimentos suspeitos agraciam toda a sua natural atenção.
E o sacana do gato está ali especado já há um bom bocado e não arreda pé. Está com a atenção presa em alguma coisa que eu não consigo ver daqui. Mas que raio estará ele a ver, para permanecer tanto tempo quieto naquela posição? Porque está tão sossegado? Se calhar vigia algum pardal. Ou um melro. Talvez um chapim, ou uma alvéola, que por ali ande a saltitar. Um ratinho a cirandar ou uma pequena e desorientada toupeira que veio espreitar à superfície da terra. Também se pode tratar de um simples bocado de papel que, encantado pelo sopro do vento, por ali ande a dançar. Ou alguém a passear um cão. Um atraente espécime do sexo oposto. Que gaita! Alguma coisa que está para além do plano do terreno, fora do enquadramento da imagem. Não consigo mesmo ver, daqui.
Que cena irritante. E o bichano ali continua. Atento. Sem uma reação. Não mexe. Não mia. Raios partam a curiosidade. Simplesmente, um gato a ser um gato. Que se dane. Vou mas é fazer qualquer coisa. No entanto, havia de tirar uma foto desta cena. Pode ser que até fique gira. Espero que ele não saia dali enquanto vou buscar a câmara.
"Facts About Cats" - Timbuk 3 (1986)