Rêgo d'Água, Leiria, Portugal (2024) |
Esta placa pretende indicar algo, uma direção provavelmente. Um ponto incógnito para seguir. Tem o poder de aguçar a curiosidade dos transeuntes mais atentos e poderá até levantar questões dúbias, algumas suspeitas, ou então um simples, porquê? De repente, a questão ganha contornos filosóficos. Quem a colocou? Porque a colocou? E quando a colocou? Será que alguém viu? Haverá cúmplices? Será uma placa encriptada, destinada a revelar a localização de uma sociedade secreta, em que a determinada hora, vista de uma determinada posição, sob a incidência de um determinado ângulo de luz, revele a sua verdadeira indicação? Terei coragem suficiente para seguir tão sugestiva direção? Vai! Segue! É mesmo por ali, continua! ... Nem calculas o que te espera ...
Espera! Será esta a direção da estrada dos tijolos amarelos? Um dos muitos caminhos para Roma? A passagem para a Índia? Roswell ou a estrada da Luz? O caminho para Tabasco, Mandalay ou - "amigos, wait wait" - será para Andalay?
"Road to Andalay", de Friz Freleng (1964)
O mais certo é ser uma estrada para nenhures. Um lugar vazio onde não se passa nada, mesmo nada. Um vazio absoluto em que nem o próprio silêncio se ouve. Vácuo. Anti-matéria. Não existência. Deus? És tu? Estás aí? Na, não me parece. Seria fácil demais e tudo perdia a sua piada. A piada está no mistério, em tu acreditares e eu não. Quem é que terá razão? Não vais saber. Eheheh!
No plano da ficção científica, eu até posso olhar para esta placa, ou sinal, e imaginar para onde quero ir. Poderia escolher as terras áridas da Islândia, o fundo silencioso dos nossos oceanos ou as extensas planícies vermelhas de Marte. Viver dentro de um livro, ser o sulco de um disco de vinil ou o fotograma da película de um filme. Ser todo um renque de possibilidades infinitas porque, tal como a personagem de George Harrison no filme "Yelllow Submarine", de George Dunning (1968), diz ...
Pode-se então induzir que este sinal poderá ser igualmente um estímulo à imaginação de cada um. Ao olhar para a sua opacidade, o sujeito deve procurar, no íntimo do seu ser, por aquilo que realmente deseja que ali esteja momentaneamente indicado: "BAR DA MORGUE - 500mts" - "MULHERES BOAS, COMENDO MELOAS - 200mts" - "O ELIXIR DA ETERNA JUVENTUDE - 10km" - "TEATRO CHINO - 2km" - "HAXIXA NABRAZA - 80mts" - "MELLOTRON, O PLANETA FANTÁSTICO - ... " e até, porque não, "PEPPERLAND" ...
O mistério adensa-se. Alastra o seu espetro de cartão barato, em tábua de madeira rasa, para que do alto do seu poiso de abraçadeira de plástico, justa à estabilidade maciça de um poste elétrico, lance a confusão nas pobres mentes quotidianas e baralhe a ordinária orientação de quem nada mais tem que fazer senão seguir a rotina do próprio destino e assim caminhar, passivamente, para lado nenhum.
"Nowhere" - Therapy? (1993)